Sábado, 12 de Maio de 2007

Jesus Vive

 

Ressuscitou ao Terceiro Dia e Subiu aos Céus


“Por que procurais Aquele que vive entre os mortos? Ele não está aqui; ressuscitou” (Lc 24,5-6). No quadro dos acontecimentos da Páscoa, o primeiro elemento com que se depara é o sepulcro vazio. Ele não constitui em si uma prova directa. A ausência do corpo de Cristo no túmulo poderia explicar-se de outra forma (Jo 20,13;Mt 28,11-15). Apesar disso, o sepulcro vazio constitui para todos um sinal essencial. A sua descoberta pelos discípulos foi o primeiro passo rumo ao reconhecimento do fato da Ressurreição.

Maria de Mágdala e santas mulheres que vinham terminar de embalsamar o corpo de Jesus (Mc 16,1,Lc24,1), foram as primeiras a encontrar o Ressuscitado, assim as mulheres foram as primeiras mensageiras da Ressurreição de Cristo para os apóstolos (Lc 24,9-10).

Jesus ressuscitado tem com seus discípulos relações directas, no momento em que aparece a eles. Os discípulos tocam-lhe e com Ele comem (Jo 20,27;Jo 21,9.13-15). Jesus convida-os com isto a reconhecer que Ele não é um espírito, mas sobretudo a perceberem que o corpo ressuscitado é o mesmo que foi martirizado, pois traz ainda as marcas da sua Paixão (Lc 24,40). A grande diferença que Jesus quer mostrar é que o seu corpo autêntico possui propriedades novas de corpo glorioso e não está mais situado no espaço e no tempo, mas pode tornar-se presente a seu modo (Mt 28,9.16-17), pois a sua humanidade não está presa à terra, mas pertence ao domínio do Pai (Jo20,17).

Aspectos que diferenciam a Ressurreição de Jesus

Lemos no Evangelho que muitos ressuscitaram dos mortos, como lázaro, o filho da viúva e a filha do Chefe da Sinagoga. Mas a Ressurreição de Jesus difere das outras, poderíamos citar em especial quatro aspectos:

a. Primeiro, devido à causa da ressurreição, porque os outros que ressuscitaram, não ressuscitaram por próprio poder, mas pelo poder de Cristo ou das orações de algum santo. Cristo ressuscitou por próprio poder, porque não era apenas homem, mas também Deus, e a divindade do Verbo jamais se separou nem de sua alma, nem de seu corpo. Por isso, o corpo reassumiu a alma e a alma o corpo, quando queria. Assim se confirma em Jo 10,18 “Tenho poder para entregar a minha alma, bem como para a reassumir”.

b. Difere, em segundo lugar, devido à vida que fora ressuscitada. Cristo ressuscitou para a vida gloriosa e incorruptível, conforme se lê na aos Romanos: “Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai”. Os outros, para a mesma vida que antes possuíam, como se verificou em Lázaro e nos outros ressuscitados.

c. Difere ainda a Ressurreição de Cristo da dos outros quanto à sua eficácia e quanto ao seu futuro, porque foi em virtude daquela que todos ressuscitaram, assim confirma-se em Mt 27,52 : Muitos corpos dos Santos que dormiam ressuscitaram. E também em I Cor 15,20 : Cristo ressurgiu dos mortos, primícia dos que dormem.

d. A quarta, diferença é relativa ao tempo, porque a ressurreição dos outros foi retardada para o fim dos tempos, a não ser que tenha sido concedida por privilégio, como a da Virgem Santa. Cristo, porém, ressuscitou ao terceiro dia porque a sua Ressurreição e Morte realizaram-se para a nossa salvação, e Ele, portanto, só quis ressurgir quando fosse vantajoso para a nossa salvação. Ora, se ressuscitasse imediatamente após a morte, não se acreditaria que Ele tivesse morrido. Se fosse demasiadamente protelada a ressurreição, os discípulos não perseverariam na fé, e nenhuma utilidade teria a sua Paixão, com confirma a Sl 29,10 : "Que utilidade haveria em ter eu derramado o sangue, se desci ao lugar da corrupção?"

Sentido e alcance salvífico da Ressurreição

A Ressurreição de Cristo constitui antes de tudo a confirmação de tudo o que o próprio Cristo fez e ensinou. Ela é o cumprimento da promessa do A.T. (Lc 24,26-27) e do próprio Jesus durante sua vida terrestre (Mt 28,6). A verdade da divindade de Jesus é confirmada pela Ressurreição (Jo 8,28).

A Partir da morte de Jesus, libertamo-nos do pecado, e a partir da Ressurreição, Jesus abre as portas de uma nova vida para nós. Esta é a primeira justificação que nos restitui a graça de Deus (Rm 4,25). A vitória sobre a morte do pecado consiste na nova participação na graça (Ef 2,4-5). Ela realiza a adopção filial, pois os homens se tornam irmãos de Cristo (Mt 28,10; Jo 20,17).

O Cristo ressuscitado vive no coração dos seus fiéis. Nele os cristãos “saboreiam o dom celeste” (Hb 6,5) e sua vida é atraída por Cristo ao seio da vida divina (Cl 3,1-3) a “fim de que não vivam mais para si mesmo mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (Cor 5,15).

Ascensão de Jesus (Cat 659 - 664)


“E o Senhor Jesus, depois de ter-lhes falado, foi arrebatado ao Céu e sentou-se à direita de Deus Pai” (Mc 16,19). O corpo de Jesus foi glorificado desde o momento da Ressurreição e recebe agora propriedade novas sobrenaturais que irá desfrutar em carácter definitivo (Lc 24,31; Jo 20,19.26). Só aquele que “saiu do Pai” pode “retornar ao Pai”: Cristo (Jo 16,28).

A elevação da Cruz significa e anuncia a elevação da Ascensão ao céu (Jo 12,23). Jesus Cristo , o único Sacerdote da nova e eterna aliança, não “entrou em um santuário feito por mão de homem ... e sim do próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor” (Hb 9,24).

Jesus Cristo, Cabeça da Igreja, nos precede no Reino de glorioso do Pai para que nós, membros de seu Corpo, vivamos na esperança de entrarmos um dia eternamente com Ele. Tendo entrado uma vez por todas no santuário do céu, Jesus Cristo intercede sem cessar por nós como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo.

 

A segunda vinda de Jesus ou parusia (Cat 668 - 679)

A partir da Ascensão, o Advento de Cristo na glória que poderá acontecer em breve (Ap 22,20), embora não nos “caiba conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade” (At 1,7). Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento (Mt 24,44; I Ts 5,2).

A fé ensina que a história deste mundo caminha para a sua consumação, quando Jesus virá “rematar” a obra que iniciou em sua primeira vinda. A volta gloriosa de Cristo constitui a mensagem que norteia a vida dos cristãos. A Parusia do Senhor deve marcar as atitudes do cristão neste mundo. O Reino de Deus já começou, mas com ele subsistem ainda resquícios do “reino de Satanás” e do Mistério da Iniquidade (2Tes 2,7). O cristão tem dentro de si o Reino de Deus, mas traz este tesouro guardado em “vaso de argila”, pois ainda precisa ver “joio no meio do trigo” e aguarda com uma atitude heróica o dia da consumação, para presenciar a “eliminação do joio”.

A Igreja só entrará na glória do Reino através da sua última Páscoa, em que seguirá seu Senhor na sua Morte e Ressurreição (Ap 19,1-9). O Reino de Deus se realizará pela vitória de Deus sobre todo desencadeamento último do mal (Ap 20,7-10) que fará a sua esposa ( a Igreja gloriosa) descer do céu (Ap 21,2-4).

Ao vir no fim dos tempos julgar os vivos e os mortos, Cristo glorioso revelará a disposição secreta dos corações e retribuirá a cada um segundo suas obras e segundo tiver acolhido ou rejeitado.

 

publicado por cristocontacontigo às 22:21
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Sabe bem recordar...

Excerto do Discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington.

“...Sei muito bem que alguns de vocês chegaram aqui após muitas dificuldades e tribulações. Alguns de vocês saíram recentemente de pequenas celas de prisão. Alguns de vocês vieram de áreas onde a vossa procura da liberdade vos deixou marcas provocadas pelas tempestades da perseguição e sofrimentos provocados pelos ventos da brutalidade policial. Vocês são veteranos do sofrimento criativo. Continuem a trabalhar com a fé de que um sofrimento injusto é redentor.

Voltem para o Mississipi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para a Luisiana, voltem para as bairros de lata e para os guetos das nossas modernas cidades, sabendo que, de alguma forma, esta situação pode e será alterada. Não nos embrenhemos  no vale do desespero.

Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Tenho um sonho que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado da sua crença: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais".

Tenho um sonho que um dia nas montanhas rubras da Geórgia os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos proprietários de escravos poderão sentar-se à mesa da fraternidade.

Tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pela qualidade do seu caractér.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia o estado de Alabama, cujos lábios do governador actualmente  pronunciam palavras de ... e recusa, seja transformado numa condição onde pequenos rapazes  negros, e raparigas negras, possam dar-se as mãos com outros pequenos rapazes brancos, e raparigas brancas, caminhando juntos, lado a lado, como irmãos e irmãs.

Tenho um sonho, hoje.

Tenho um sonho que um dia todo os vales serão elevados, todas as montanhas e encostas serão  niveladas, os lugares ásperos serão polidos, e os lugares tortuosos serão endireitados, e a glória do Senhor será revelada, e todos os seres a verão, conjuntamente.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com a qual regresso ao Sul. Com esta fé seremos capazes de retirar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé poderemos transformar as dissonantes discórdias de nossa nação numa bonita e harmoniosa sinfonia de fraternidade. Com esta fé poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, ir para a prisão juntos, ficarmos juntos em posição de sentido pela liberdade, sabendo que um dia seremos livres.

Esse será o dia quando todos os filhos de Deus poderão cantar com um novo significado: "O meu país é teu, doce terra de liberdade, de ti eu canto. Terra onde morreram os meus pais, terra do orgulho dos peregrinos, que de cada localidade ressoe a liberdade....”

publicado por cristocontacontigo às 22:17
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C.E.P.

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A Assembleia Plenária da CEP é sempre motivo de alegria pela beleza do encontro fraterno e pelo recentralizar-se em Cristo vivo pois “onde dois ou três estão reunidos no Meu nome Eu estou no meio deles” (Mt 18,20). Desta experiência de contemporaneidade com Cristo presenciamos o essencial da Igreja: “Onde dois ou três estão reunidos no Meu nome aí está a Igreja” (Orígenes). Ser Igreja pela presença de Cristo une-nos, colegialmente, a Sua Santidade o Papa Bento XVI, suscita na comunhão dos Santos atitudes de sufrágio por D. Américo Henriques, regressado ao seio do Pai, intensifica a solidariedade e gratidão eclesial com D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva e D. António Baltasar Marcelino pelo trabalho realizado, com a certeza de que continuarão connosco operantes em benefício do Povo de Deus, e gera sentimentos de sinodalidade com D. António Augusto dos Santos Marto, D. Ilídio Pinto Leandro e D. António Francisco dos Santos nos seus novos encargos pastorais. A D. Armindo Lopes Coelho asseguramos as nossas preces para uma recuperação da saúde que lhe permita continuar connosco na edificação do Reino.
O suceder-se das Assembleias Plenárias deveria ser sinónimo dum crescimento na comunhão, que é visibilização de Deus e anúncio da nova humanidade. A comunhão entre as nossas dioceses deve ser um itinerário para a articulação harmónica de projectos que inspirem, em consciência responsável, as nossas opções quotidianas. Na variedade de contextos sociológicos e religiosos assumimos a sinodalidade não apenas como um discurso eclesiológico mas como um novo modo de agir e de viver. Somos comunhão plural e, por isso, renunciamos ao individualismo para sublinhar que o anúncio de Deus passa pela acção concorde e harmoniosa.

1. A diferença cristã perante a laicidade
No itinerário da comunhão, queremos descobrir sendas novas para a transmissão da fé recebida. Sabemo-nos envolvidos num contexto de laicidade que gostaríamos que fosse, nas palavras de João Paulo II, uma “laicidade justa”, ou seja, alicerçada na distinção entre as comunidades de crentes e o Estado, o que não implica “ignorância” ou desprezo do que somos ou significamos para o mundo. Se sentimos uma “laicidade aconfessional” ou, melhor “anti-confessional”, não nos podemos atemorizar; devemos sim, permanecer fiéis à nossa identidade. É isso que o presente e o futuro esperam de nós.
A “laicidade justa” dá-nos a possibilidade de marcar a nossa presença e expressar o nosso pensamento numa sociedade onde pululam as propostas e os confrontos doutrinais. Aí manifestamos a coragem de ser diferentes, sem presunção ou vanglória: só a vida, permeada da mensagem evangélica, fará que o Deus verdadeiro seja acolhido e anunciado deixando marcas na fisionomia da cultura contemporânea.
Não estamos do lado do medo ou da imobilidade resignada. Estamos apostados na edificação duma sociedade mais justa através da força criativa que nasce da obediência fiel ao Evangelho. Deus não se pode tornar numa das opiniões controversas limitadas ao foro privado ou íntimo de cada indivíduo.

2. Transmitir a fé como escuta e interpelação à cultura
Quando falamos em transmissão da fé, deveremos ter em conta que não se trata, simplesmente, da passagem de testemunho, no interior da comunidade eclesial. Transmitir a fé exige a inserção do Evangelho em todos os âmbitos da sociedade onde vivem os cristãos, pois a salvação cristã possui dimensão universal.
A universalidade da evangelização implica saber escutar a cultura envolvente, na variedade dos seus sentidos e das suas percepções. Reclama por outro lado, não em menor grau, a coragem de interpelar profeticamente essa cultura.
No actual contexto de pluralismo cultural e religioso, a fidelidade à transmissão da fé exige tomadas de posição publicamente audíveis. A escuta e o respeito pela diferença dos outros exige que sejamos verdadeiros e saibamos expor, de forma clara, a visão do homem e do mundo que nos é constantemente proposta pela pessoa de Jesus Cristo.
Seja na defesa dos mais débeis, promovendo a vida e a sua dignidade em todas as circunstâncias; seja na defesa da paz frente à violência, mesmo ou sobretudo frente à violência em nome de Deus; seja na denúncia dos mais subtis atentados contra a dignidade humana, que uma sociedade de bem-estar não se cansa de levar a efeito; seja na defesa da liberdade de exprimir publicamente as próprias convicções, desde que respeitosas da dignidade dos outros – a cultura hodierna, algo perdida ou confusa, exige palavras claras, ainda que humildes porque conscientes de não sermos donos absolutos da verdade.
Acolher a fé para interpelar a cultura pode expressar-se na súplica de S. Paulo a Timóteo: “Prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência” (2 Tim 4,1), a que Santo Agostinho deu uma interpretação paradigmática para os dias de hoje. “Oportunamente para quem? Inoportunamente para quem? Oportunamente para quem quer ouvir, inoportunamente para quem não quer ouvir” (Sermão 46).
Nunca poderemos renunciar ao imperativo do anúncio da Boa Nova, fazendo-o, sempre e só, numa atitude de diálogo. Alguns poderão não querer ouvir ou apostar mesmo em silenciar a nossa voz. Porque não somos objectivo em nós próprios e não nos procuramos a nós mesmos, sabemos que o nosso silêncio atraiçoaria a felicidade da humanidade.

3. Missão eclesial em favor da globalidade da vida
A Igreja, discípula de Cristo que veio ao encontro dos homens para que tenham vida e a tenham em abundância (cf. Jo 10,10), sempre interpretou a sua missão como serviço à vida. Não se contentou nem se pode contentar com períodos de campanha. Toda a sua actividade se orienta para a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana com direitos invioláveis entre os quais a vida ocupa o primeiro lugar como condicionante e alicerce de todos os outros. A pastoral eclesial é uma proposta evangelizadora do dom da vida, uma celebração que marca as diferentes etapas da vida humana com os Sacramentos e uma intervenção social que busca respostas para as situações de vida marcadas pela ausência dos direitos fundamentais. Omitir este Evangelho da vida significa renunciar ao essencial da missão e trair aqueles e aquelas que são a nossa razão de existir.
A Igreja foi e será sempre “profeta” da vida oferecendo, em permanência, razões para a defender. Hoje, assistimos a múltiplas e crescentes situações preocupantes, indicadoras de uma disseminada «cultura da morte» que atinge indivíduos, grupos e povos: o terrorismo organizado, alimentado por cegos interesses político-económicos ou por exacerbado fanatismo religioso; o tráfico de seres humanos; a exploração sexual de crianças e adolescentes; o aborto; a eutanásia e o suicídio assistido de idosos, de doentes incuráveis e de seres limitados a nível físico ou psíquico; o racismo e a xenofobia, tantas vezes assumidos como opção ideológica; a violência gratuita, multiforme, presente sobretudo nos grandes aglomerados urbanos, geradora de insegurança e de ostracização de determinados grupos étnicos e sociais; as gritantes desigualdades económicas, culturais, sociais e tecnológicas que impedem a tantos o acesso condigno à alimentação e à água potável, aos cuidados de higiene e de saúde, à educação e ao desenvolvimento; a diluição da pessoa no anonimato e na massificação, com o consequente empobrecimento das relações humanas; a frustração, o tédio e o vazio existencial de tantos jovens, ilusoriamente “resolvidos” em paraísos delirantes ou em experiências exóticas e fugidias; a solidão e o abandono de tantos idosos, encarados como “peso” porque já não produtivos.

4. A vida é dom a acolher e a promover
Se a vida na sua multifacetada identidade nos interpela a sermos promotores duma verdadeira cultura, não podemos ignorar a realidade do aborto, assumida como questão fundamental e problema central quase que a distrair-nos de variadíssimas situações existenciais degradantes. É com palavras claras que exprimimos a nossa posição, mesmo que nos situem no espaço dos retrógrados em confronto com outros países: somos inequivocamente pela vida desde a concepção até à morte; simultaneamente, afirmamos o nosso compromisso na resposta a situações que se revestem duma peculiar dramaticidade. Ser “profeta” da vida significa dar voz a realidades que muitos querem ignorar.
A vida enquanto dom recebido torna-se, para o homem, e para a mulher exigência de dom assumido, generosa e responsavelmente, perante si mesmo e perante a humanidade. Quer isto dizer que a vida humana é inseparavelmente dom-tarefa e, como tal, é instância ética privilegiada da auto-realização pessoal, da convivência com todos e da actuação no mundo. Tal tarefa, compromisso ético, está bem patente em todos os códigos deontológicos, no âmbito da medicina, desde a antiguidade até aos nossos dias, ao prescreverem «o máximo respeito pela vida humana desde o momento da concepção». Por tal razão, reafirmamos, uma vez mais, a malícia intrínseca de todo o aborto provocado, pois constitui gravíssimo atentado à vida humana inocente e indefesa. Carece, pois, de qualquer razoabilidade e sentido falar do “direito a abortar” por parte da mulher-mãe, invocando o direito a dispor arbitrariamente do seu próprio corpo, porque o concebido não é “apêndice” da mãe, mas antes uma realidade humana autónoma e, como tal, inviolável. Da mesma forma, também não se pode reconhecer ao poder constituído, na sua vertente legislativa, competência para liberalizar ou descriminalizar o que, por sua natureza, é crime. Nenhuma lei positiva pode transformar em não-mau ou em bom, o que é mau em si mesmo. Poderá sim, desculpabilizar, total ou parcialmente, os que cometem determinada acção má, atendendo às múltiplas circunstâncias atenuantes concretas. Ao Estado, porque pessoa de bem, compete elaborar uma regulamentação legislativa justa e equilibrada que não silencie, não subalternize, nem subestime os direitos dos mais débeis e indefesos.
Reconhecemos, com humana compreensão e solicitude, os dramas psicológicos, sociais e económicos que tantas vezes se apresentam como “indicações” para o aborto. Tais dramas, contudo, devem constituir ”indicações” para a solidariedade real e efectiva do poder político e da sociedade civil, criando as condições necessárias para que a nova vida seja acolhida e se possa desenvolver. Saudamos, com particular afecto, todos aqueles que já hoje, em diversas instituições, prestam generosamente este valioso serviço à vida e estimulamo-los a prosseguir tão relevante serviço. A solidariedade, feita comunhão, é o rosto mais belo e credível da “cultura da vida”.

5. O trabalho, exigência duma vida digna
Porque “o homem é o caminho da Igreja” (João Paulo II, Redemptor Hominis, nº 14), pretendemos percorrer com ele as suas alegrias e tristezas, as suas vitórias e fracassos, as suas perplexidades e a sua esperança e compromisso (Cf. Gaudium et Sps, nº 1).
Daí que, sempre na atenção profética às condições de vida do povo português e no ano em que comemoramos os 25 anos da publicação da notável encíclica de João Paulo II, Laborem Exercens, “sobre o trabalho humano” no nonagésimo aniversário da Rerum Novarum, será oportuno relembrar os ensinamentos fundamentais aí explanados e procurar entender as principais transformações em curso na sociedade portuguesa. A situação económico-social inquieta-nos e o desemprego torna-se causa de situações indignas que muitos teimam em ignorar. Teremos de reconhecer e sublinhar que o trabalho humano para todos deve ser a “chave essencial para uma vida humana digna” (L. E. nº 3).
A precariedade do emprego, que atinge um número cada vez maior de trabalhadores e de famílias portuguesas, contraria as aspirações mais profundas das pessoas, sacrifica os seus legítimos direitos na mesa do lucro e da competitividade a qualquer preço. O ideal de um emprego estável e digno para todos, a começar pelos mais jovens, vai-se diluindo na voracidade de uma economia cada vez mais globalizada e hipercompetitiva que, agressivamente, afecta a dignidade da pessoa humana e a estabilidade dos projectos e percursos da família.
É oportuno interrogarmo-nos até que ponto a economia, organizada à volta da competitividade a qualquer preço, com o resultado de deslocalizações de empresas, de fusões e de concentração de grupos económicos, não lança no desemprego populações e famílias inteiras sem as qualificações necessárias para rapidamente regressarem ao mercado de emprego.
Se o mercado de trabalho está em fase de desindustrialização, de modernização técnica e de requalificação, os responsáveis industriais e políticos, por seu lado, não devem esquecer as inerentes responsabilidades humanas e sociais para com aqueles que são vítimas de tais processos de mudança. A dignidade dos trabalhadores e das suas famílias é um valor que não poderá deixar de ser promovido.

6. A luz do Evangelho a marcar as realidades terrestres
Com estas observações estou a recordar a doutrina do Concílio Vaticano II. “É necessário tornar acessíveis ao homem todas as coisas de que necessita para levar uma vida verdadeiramente humana: alimento, vestuário, casa, direito de escolher livremente o estado de vida e de constituir família, direito à educação, ao trabalho, à boa fama, ao respeito, à conveniente informação, direito de agir segundo as normas da própria consciência, direito à protecção da sua vida e à justa liberdade mesmo em matéria religiosa” (G.S. 26).
Com este cuidado pela vida toda e de todos, núcleo central da transmissão da fé (tema central desta Assembleia), quero interpelar a Igreja de Portugal para que a fé incida no quotidiano das pessoas. Na verdade, “a Igreja, seguindo a finalidade que lhe é própria, não só comunica ao homem a participação na vida divina, mas também difunde, de certo modo, sobre o mundo inteiro a luz que irradia desta vida divina, principalmente sanando e elevando a dignidade da pessoa humana, consolidando a coesão da sociedade e dando um sentido mais profundo e mais elevado à actividade quotidiana dos homens. Assim a Igreja, por meio de cada um dos seus membros e de toda a sua comunidade, crê que pode contribuir muito para tornar cada vez mais humana a família dos homens e a sua história” (G.S. 40).
Assim Deus ajude todos os cristãos a afirmar a própria identidade e a terem coragem para evangelizar o mundo através da proclamação da beleza de Deus na solicitude, atenta e responsável, pela dignidade da vida desde a concepção até à morte.

Fátima, 13/11/2006.
+ Jorge Ferreira da Costa Ortiga, Arcebispo Primaz
.
Documentos | D. Jorge Ortiga| 13/11/2006 | 16:30 | 14754 Caracteres


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publicado por cristocontacontigo às 22:16
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Maximiliano Kolbe

Franciscano desde 1907, fundou em 16 de outubro de 1917 a Milícia da Imaculada, associação destinada ao apostolado católico e mariano. Instalou uma tipografia católica e editou a revista mariana "Cavaleiro da Imaculada" que alcançou a tiragem de um milhão de exemplares. Chegou a instalar uma emissora de rádio e a estender suas atividades apostólicas até o Japão: entre 1930 e 1936 foi missionário em Nagasaki. Durante a Segunda Guerra Mundial deu abrigo a muitos refugiados, incluindo cerca de 2000 judeus. Em 17 de Fevereiro de 1941 é preso pela Gestapo, já que os nazis temiam a sua influência na Polónia. É transferido para Auschwitz em 25 de Maio como prisioneiro #16670. Em Julho de 1941, um homem do bunker de Kolbe foge e como represália, os nazis enviam para uma cela isolada 10 outros prisioneiros para morrer de fome e sede (o prisioneiro fugitivo é mais tarde encontrado morto, afogado numa latrina). Um dos dez lamenta-se pela família que deixa, dizendo que tinha mulher e filhos, e Kolbe pede para tomar o seu lugar. O pedido é aceite. Na realidade, o Padre Kolbe aceitava o martírio para praticar heroicamente seu múnus sacerdotal, dando assistência religiosa e ajudando a morrer virtuosamente aqueles pobres condenados. Duas semanas depois, só quatro dos dez homens sobrevivem, incluindo Kolbe. Os nazis decidem então executá-los com uma injecção de ácido carbólico. Foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 10 de Outubro de 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, o homem cujo lugar tomou e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz.

Edith Stein co-padroeira da Europa

Quando menina e adolescente, não obstante os pedidos de sua mãe em professar a judaica, ela qualificava-se sempre de ateia. Contudo, acompanhava a mãe à sinagoga mais por delicadeza do que por convicção religiosa, passando o tempo a distrair-se e olhando para quem entrava e saía. Pelos seus 30 anos, passando as suas férias grandes em casa de uns amigos na Baviera, no Outono de 1921, veio-lhe par às mãos a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, intitulada «Livro da Vida». Ficou tão encantada que acabou por ler o livro completo, durante toda a noite. Depois disse: “Aqui está a verdade!”. Comprou um catecismo católico e um missal e entrou, pela primeira vez, num templo católico, participando na Missa. Após algum tempo de preparação, recebeu o Baptismo, aos 31 anos, no dia 1 de Janeiro de 1922. A família, profundamente desgostada, cortou, durante algum tempo, relações com ela. Aos 42 anos, em Setembro de 1933, Edith comunica à mãe a entrada próxima na vida religiosa da Ordem Carmelita Descalça, ingressando no Carmelo a 15 de Outubro de 1933, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz. Por licença especial das suas superioras, escrevia todas as semanas à mãe, sem obter qualquer resposta, até que, por fim, recebeu um bilhete da mesma. Para escapar à perseguição nazista, fugiu em 1940 da Alemanha para os Países Baixos. Mas quando esta nação foi ocupada pelos nazis, Edith foi presa com a sua irmã. Saiu do convento de hábito carmelita que continuou a usar no campo de concentração, oferecendo a sua vida, como ela disse, pela conversão ao Catolicismo do povo hebreu. O seu número de prisioneira era o 44070. Pelo seu heroísmo cristão, no dia 1 de Maio de 1987, foi beatificada por João Paulo II em Colónia e, a 11 de Outubro de 1998, foi canonizada pelo mesmo papa, sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz, ou apenas Teresa da Cruz.

 

publicado por cristocontacontigo às 22:14
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