O tempo que passa entre os nossos dedos, na nossa vida e que nós teimamos, perdoem -me, tal burro á roda com a nora, afirmar a todo o momento que o não temos... ao tempo.
Nesse livro, entre outras coisas que irei afirmar neste texto, houve uma frase que “cresceu” em mim dando-me uma dimensão diferente do nosso tempo desordenado e ansioso. Essa frase falava sobre cânticos e, dizia um músico eucarístico que, cantar cânticos é a arte que torna audível o silêncio e deixa o tempo ficar parado.
...a arte que torna audível o silêncio e deixa o tempo ficar parado.
Poderosa esta frase. Até porque ao lê-la me recorda muitos momentos em que, na Eucaristia principalmente, mas também na oração em grupo que fazemos no cursilho existiram sensações da não existência de tempo, como se ele, o tempo, tivesse dado lugar a um espaço sem tempo, um momento intemporal. Isto é tão verdade quantas vezes ouvimos um irmão dizer, tal como Pedro, “que bem que se está aqui.”
E quem diz e sente esta frase, “que bem que se está aqui”, é porque nesse momento está verdadeiramente ali, por inteiro, sem pensar no tempo que ficou para trás nem no que ainda há-de vir. Celebrando o momento...
Em celebração contínua, é assim que eu vejo o tempo do cristão peregrino nesta terra, já contemplando e adivinhando a celebração que nos espera no céu com o maior de todos os Celebrantes, Jesus Cristo. Porque as festas são tempos sagrados.
As Festas, celebrações, são como uma renovação do tempo a partir da origem. “Pressentimos aí o verdadeiro significado do tempo: o momento que Deus nos oferece, o local do encontro com Deus...”
O filósofo grego Demócrito, entre outras coisas, compreendia a festa como uma pousada, uma paragem, no caminho das nossas vidas. A nossa vida é um estar constantemente a caminho. No entanto não podemos estar sempre a caminhar. Precisamos de encontrar pousadas para descansarmos, renovar forças. E onde um cristão encontrará melhor pousada para procurar forças se não na grande festa que é a Eucaristia.
Gostava de partilhar convosco meia dúzia de frases que o papa Gregório registou acerca de São Bento e da sua visão do tempo. O papa Gregório conta que São Bento num único raio de sol, consegue distinguir o mundo. Isto significa que num único instante, São Bento consegue ver tudo. Mas este tudo não é a grande variedade de coisas que se podem ver umas a seguir ás outras. São Bento observa tudo profundamente e vê através das coisas.
Deixemos que São bento nos explique com palavras suas:
“Não vejo uma coisa sobre que pudesse contar. Vejo o fundo de todos os seres. Vejo o fundo da minha alma. E, aí, tudo se reúne. Aí se juntam os contrastes. Aí o tempo e a eternidade são um só. A contemplação significa a reunião com o ser e ao mesmo tempo a adesão à vida. Mesmo quando está tudo muito confuso em mim, mesmo quando sofro por minha causa e das minhas emoções, toco, através da contemplação, no local onde estou em harmonia comigo mesmo, e em que posso dizer: Está bem como está. Já não consigo expressar nada para além disto. Não consigo dizer: está bem por isto ou por aquilo. È simplesmente assim. Entro em contacto com o ser e, com o ser, termina toda a avaliação. Existo e pronto. Deus existe. O ser existe. E é quanto basta.”
Depois destas palavras que não ousarei comentar citarei outro grande santo da igreja, santo Agostinho. Para ele, a ânsia de eternidade (ou de uma vida sem tempo) é uma ânsia de estabilidade, de felicidade permanente, do amor duradouro, do sucesso na vida.
Esta ansiedade de que fala
Também a bíblia se refere ao mistério que é o tempo:
“1. Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus:
2. tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado;
3. tempo para matar, e tempo para sarar; tempo para demolir, e tempo para construir;
4. tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar;
5. tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se.
6. Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para deitar fora;
7. tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar;
8. tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz.”
O que me parece que salta logo á vista ao meditar neste texto é que tudo é bom no seu tempo próprio. E o tempo próprio só Deus conhece. Então, embora a nossa caminhada deva ser activa e não passiva, a resignação à vontade divina, ainda que algumas vezes seja mais fácil dizê-lo do que fazê-lo, deve imperar na vida do cristão maduro na fé. Nunca querendo ultrapassar o tempo, por não ter tempo, mas vivendo cada momento com a intensidade que lhe será própria.
Por outras palavras, o tempo não está nas minhas mãos. Só quando o recebo das mãos de Deus com a qualidade que Ele lhe concede, (tempo de doença, de alegria, de dor, de saúde, de sofrimento, etc,) tal como ele é, é que ele, o tempo se torna bom, se torna um tempo medicinal e sagrado, um tempo em que a eternidade se torna visível.
Santa Terezinha que conheceu bem tempos conturbados, dizia: “quando o desespero nos ataca é habitual que pensemos demasiado no passado e no futuro, mas o que deveríamos verdadeiramente fazer era viver esse tempo e aprende-lo.
Termino esta compilação de ideias sobre o tempo com uma oração de santa Terezinha:
Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa.
Só Deus não muda.
A paciência tudo alcança.
Quem a Deus tem
Nada lhe falta.
Só Deus basta!
Também ela está de acordo com são Bento que nos diz acima; E é quanto basta.
E quando nos faltar o tal tempo que não é nosso e ansiarmos e desesperarmos por mais tempo, saibamos respirar em contemplação com são Bento e dizer com santa Terezinha “Só Deus Basta!”
De Colores
Excertos de:
Ao ritmo do tempo dos monges”
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